A febre Q é uma zoonose de distribuição mundial causada por Coxiella burnetii (Cb), uma bactéria Gram-negativa pleomórfica, estritamente intracelular. Aproximadamente 40% dos casos de infecção por Cb apresentam manifestações clínicas que variam desde uma doença febril aguda autolimitada até casos de pneumonia, síndrome da fadiga crônica e endocardite. Os quadros de hepatite por Cb são menos frequentes, podendo ser clinicamente silenciosa ou resultar em danos hepáticos na ausência de diagnóstico e tratamento oportuno. Embora a febre Q não seja de notificação compulsória e existam poucos estudos sobre sua presença no Brasil, na última década tem-se observado maior número de casos, alguns confundidos com dengue, além de endocardite e pneumonia. Diante da possibilidade de febre Q com acometimento hepático no estado do Rio de Janeiro, onde Cb tem sido identificada em pacientes, animais domésticos e silvestres, faz-se necessário investigar pacientes com hepatite sem etiologia definida.

Realizar análise molecular e sorológica, em amostras de casos de hepatite sem etiologia definida, atendidos no serviço de referência para casos de hepatites agudos no estado do RJ.

Dados secundários de prontuários de pacientes atendidos de 2012 a 2023, considerando os seguintes critérios de inclusão: 1) todas as faixas etárias, (2) ser residente nos municípios do RJ; (3) ter informações clínico-epidemiológicas; (4) ter amostras de soro pareadas. As amostras de biobanco, no contexto serviço de referência, foram submetidas ao teste de imunofluorescência indireta para detecção de anticorpos IgG anti- C. burnetii e à análise molecular para detecção do gene IS1111 de Cb.

A análise sorológica dos 59 pacientes selecionados identificou 2 (3,39%) pacientes sororreativos com titulação de 128. A análise molecular foi negativa. Os pacientes eram estudantes, um do sexo masculino 17 anos, e outro do sexo feminino 14 anos, ambos residentes no município do RJ. As manifestações clínicas foram inespecíficas, acompanhadas de febre com surgimento de icterícia. A adolescente relatou possuir um gato de estimação e presença de roedores peridomiciliares.

Esta é a primeira investigação de febre Q em pacientes com hepatite realizada no Brasil. A presença de anticorpos anti-Cb no soro, corrobora a hipótese da possibilidade de hepatite causada por Cb e reforça a importância de se incluir febre Q na investigação de hepatites sem etiologia definida.

Coxiella burnetii, Hepatite, Febre Q.

Não houve conflitos de interesse.