As infecções de corrente sanguínea (ICS) são eventos prevalentes em unidades de terapia intensiva (UTIs), sendo fundamental conhecer a epidemiologia local. Dentre os microrganismos causadores destacam-se as bactérias Gram negativas, associadas a expressiva resistência bacteriana.

Trata-se de um estudo observacional descritivo. Em uma primeira etapa, foram coletados dados das hemoculturas positivas de pacientes internados na UTI Adulto do Hospital Universitário de Brasília em 2021 e 2022. Em segunda etapa, os prontuários dos pacientes que tiveram hemocultura com bactérias Gram negativas foram consultados para análise de dados clínicos (idade, comorbidades, tempo de internação, escore de SOFA, dispositivos invasivos, desfecho).

No período do estudo houve 260 hemoculturas positivas de pacientes internados na UTI Adulto do HUB sendo 79 por bactérias Gram negativas fermentadoras (30%) e 25 por bactérias Gram negativas não fermentadoras (10%). Os Gram negativos mais prevalentes foram: Klebsiella pneumoniae (n = 42), Acinetobacter baumanii (n = 14), Enterobacter cloacae (n = 11), Serratia marcescens (n = 9), Escherichia coli (n = 8) e Pseudomonas aeruginosa (n = 8). O percentual de resistência foi: amicacina 28%, ampicilina 95%, cefepime 73%, ertapenem 68%; gentamicina 55%; imipenem 74%; meropenem 67% e piperacilina-tazobactam 68%. O teste EDTA foi positivo em 50% das cepas testadas. Apenas 3 cepas resistentes a carbapenêmicos elegíveis foram testadas para colistina, sendo uma sensível (K. pneumoniae) e 2 resistentes (1 K. pneumoniae e 1 P. aeruginosa). Quanto às características dos 104 pacientes: sexo masculino em 54,8%, média de idade de 58 anos (18-97 anos), tempo médio de internação na UTI 44 dias (5-440), tempo de internação até a ocorrência da ICS 26 dias (0-395), mais de 3 comorbidades em 46%, cateter central em 80%, ventilação mecânica em 64%, sonda vesical de demora em 70%, nutrição parenteral em 11,5%, procedimento cirúrgico nos últimos 30 dias em 33%. O SOFA na data da coleta da hemocultura foi >= 7 em 74%. O desfecho da internação foi óbito em 72%, transferência em 10% e alta domiciliar em 18%.

Confirma-se a importância da morbimortalidade associada a ICS. Os agentes isolados e perfil de resistência se assemelham aos descritos no Distrito Federal e no Brasil, sendo preocupante a resistência aos carbapenêmicos. A alta letalidade pode estar associada múltiplos fatores, não analisados neste trabalho.