XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoAs fungemias são complicações comuns em pacientes gravemente enfermos e imunocomprometidos, cujos relatos mostram mais de 50% de mortalidade associada. Relatamos um caso de fungemia atípica em paciente grave, objetivando mostrar que a associação com uso de antimicrobianos de largo espectro e passagem por cirurgia abdominal é bastante frequente e deve ser levada em consideração para uma suspeita clínica de infecções fúngicas.
Relato de CasoPaciente do sexo feminino, 85 anos, internada por hérnia abdominal encarcerada, obstrução intestinal e peritonite, realizando laparotomia exploratória, enterectomia e ileostomia oportunamente. Devido a insuficiência respiratória, foi reintubada dois dias após o procedimento cirúrgico, apresentando teste rápido para SARS-CoV-2 positivo na mesma data. Apresentava estado geral grave, sedada, em ventilação mecânica, em uso de droga vasoativa, mal perfundida, anasarcada e oligúrica. Durante o internamento, fez uso de antimicrobianos de amplo espectro (imipenem 15 dias, metronidazol 5 dias, vancomicina 8 dias) por suspeita de abscesso intra-abdominal, que fora resolvido. Evoluiu com pneumonia associada à ventilação mecânica, tratada inicialmente com meropenem e vancomicina. Exame de imagem evidenciou trombose em v. jugular interna D, v. femoral comum E e v. femoral superficial E, inicialmente sem possibilidade de anticoagulação devido a plaquetopenia grave. Por episódios de febre, aumento na quantidade de secreção traqueal e cultura de aspirado positiva para Acinetobacter spp. resistente a meropenem e aminoglicosídeos, iniciou uso de Polimixina B + Ampicilina/sulbactam. Novas hemoculturas revelaram crescimento de Kodamaea ohmeri, sendo iniciado anfotericina B empiricamente. Hemocultura de controle após 72h de início do antifúngico permaneceu positiva para o fungo, apresentando parada cardiorrespiratória, revertida após um ciclo de RCP, posteriormente com piora clínica progressiva e óbito.
ConclusãoMostramos um caso de fungemia atípica em paciente grave com fatores de risco para infecção fúngica disseminada, enfatizando a necessidade de padronização na terapêutica dispensada, assim como dos métodos corretos de identificação da espécie e antifungigrama disponibilizados.