Pacientes onco-hematológicos sob quimioterapia ou uso de imunobiológicos têm as infecções como potencial causa de morbimortalidade. Tais pacientes são relativamente suscetíveis a reações agudas relacionadas à infusão de certos medicamentos, como a anfotericina B, um antifúngico polieno utilizado no tratamento de infecções fúngicas invasivas.
ObjetivoAnalisar a incidência de eventos adversos relacionados à infusão da anfotericina B em complexo lipídico (ABLC) e seu perfil de uso em pacientes onco-hematológicos internados em um centro de referência sul-brasileiro.
MétodoEstudo de coorte retrospectivo realizado em hospital oncológico terciário público-privado na cidade de Curitiba-PR. Foram incluídos registros de pacientes que receberam pelo menos duas doses de ABLC de janeiro de 2014 a dezembro de 2019.
ResultadosSessenta e nove pacientes utilizaram alguma formulação de anfotericina B nesse período dos quais 47 (68%) ABLC. Outros seis (8,7%) migraram de formulação principalmente por toxicidade renal ou reação relacionada à infusão. Do total, 15 (21,7%) apresentaram alguma reação infusional aguda no momento ou logo depois à administração do antifúngico, 14 (93,3%) relacionados ao complexo lipídico. As reações mais prevalentes foram tremor (10; 83,3%), febre (8; 66,7%) e taquicardia (6; 50%). Três pacientes (25%) tiveram o tratamento suspenso por conta das reações agudas apresentadas, incluindo um com reações consideradas graves. Dos 14 pacientes, apenas um (7,1%) recebeu pré-medicação desde a primeira dose do antifúngico. Outros sete (50%) receberam algum medicamento após o evento reacional ocorrer. Quando comparados os grupos que fizeram uso ou não de pré-medicação com a ocorrência ou não de reações infusionais obteve-se significância estatística (p valor = 0,016) sugerindo que o uso da pré-medicação protege os pacientes do aparecimento de reação infusional aguda. O tempo de infusão do antifúngico foi igual ou maior a quatro horas em 91,5% dos casos. Em relação à reposição salina, 36% receberam pelo menos um litro de NaCl 0,9% em 24 horas.
ConclusãoPacientes imunodeprimidos submetidos à terapia com ABLC devem ser monitorados cautelosamente. Protocolos que auxiliem na correta administração do antifúngico, como realização de pré-medicação, aumento do tempo de infusão e reposição salina, podem minimizar as chances de ocorrência de eventos adversos além de garantir uma maior segurança e tolerabilidade durante o tratamento.