XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA Esquistossomose hematóbica (EH) é uma doença negligenciada, causada pelo parasita Schistosoma haematobium, que infecta o trato urinário, endêmico da África, pela disponibilidade do hospedeiro intermediário do parasita, moluscos do gênero Bulinus em tal continente. No contexto da imigração pode-se apresentar em países não endêmicos, se tornando desafio ao diagnóstico. Relato: Paciente 11 anos, natural da Costa do Marfim, residindo em Minas Gerais há 6 meses. Procurou atendimento com relato de há 1 ano, apresenta quadro de hematúria macroscópica, indolor, ao final da micção, mesmo quadro apresentado pelo irmão de 14 anos de idade também residindo no Brasil há 6 meses. Durante investigação, realizado ultrassonografia de vias urinárias evidenciando pólipos vesicais, sendo então encaminhados ao serviço de urologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC UFTM). Durante avaliação paciente não apresentava alterações ao exame físico, sendo então encaminhado à cistoscopia onde foram identificadas lesões polipóides em assoalho e parede lateral direita da bexiga, as quais foram coletados fragmentos de biopsia. Mesmo procedimento realizado pelo irmão de 14 anos. Tais biopsias evidenciaram quadro histológico compatível com “cistite eosinofílica”. O paciente retornou em seguimento com relato de manutenção de quadro de hematúria, sendo então encaminhado para cistectomia parcial, juntamente com o irmão de 14 anos, sendo realizado procedimento do paciente de 11 anos no HC UFTM e encaminhado material novamente a análise histopatológica. Na avaliação do segundo material evidenciado intensa inflamação crônica granulomatosa rica em eosinófilos com estruturas por vezes calcificadas e circundadas por fibrose compatíveis com Schistossoma sp na parede da bexiga. Após tal resultado paciente foi encaminhado à infectologia juntamente com irmão que ainda não havia realizado cistectomia parcial. No ambulatório de infectologia foi solicitado pesquisa de ovos de Schistossoma no exame de rotina de urina, sendo identificados ovos de S. haematobium. Os pacientes foram então notificados e tratados com praziquantel nas doses adequadas para peso, cancelado procedimento cirúrgico do paciente de 14 anos. Mantiveram seguimento no ambulatório, com melhora da hematúria, sem recorrência do quadro. Em virtude do aumento de imigração e refugiados, nosso relato auxiliará na identificação da EH, não endêmica do Brasil, evitando intervenções invasivas como as do caso.