14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoUm dos grupos de risco para adoecimento e morte por tuberculose é a população vivendo com HIV (PVHIV). Recentemente, foi implementado rastreio destes pacientes através de Interferon Gamma Realease Assay (IGRA), com objetivo de reconhecimento e tratamento de infecção latente da tuberculose (ILTB) para redução do risco de progressão para doença.
ObjetivoEvidenciamos o caso de um paciente com rastreio adequado para ILTB que desenvolveu tuberculose extrapulmonar extensa após interrupção de tratamento para HIV, com necessidade de abordagem cirúrgica complexa com potencial comprometimento neurológico grave.
MétodoRelato de caso.
ResultadosMasculino, 39 anos, diagnóstico de HIV em 2018, com bom histórico de adesão e linfócitos TCD4 = 237 ao diagnóstico (nadir). Possuía IGRA negativo há menos de 1 ano e TCD4 acima de 350. Intercorre com interrupção de tratamento e, após 6 meses, inicia quadro de febre diária há 30 dias, sudorese noturna, dispneia aos esforços e tosse produtiva. À admissão, havia dor em coluna torácica com irradiação anterior em trajeto de dermátomos de T6-T8, sem lesões cutâneas. Exame neurológico sem déficits. As amostras de escarro foram negativas em pesquisa de bacilo álcool ácido resistente (BAAR), teste rápido molecular para tuberculose (TRM TB) e culturas. Em tomografia de tórax, o parênquima pulmonar era normal, porém foi visualizada formação expansiva heterogênea, necro-hemorrágica, paravertebral e pré-vertebral, entre T5 e T8, de dimensões 9,3 × 4,6 × 6,9 cm (LL x AP x CC). Havia obliteração do espaço discal em T6-T7 e destruição parcial da matriz óssea em T6, T7 e T8. Considerando o contexto clínico, tais achados foram fortemente sugestivos de espondilodiscite complicada de provável etiologia micobacteriana. Em ressonância magnética, não havia insinuação ao canal medular. Houve necessidade de neurocirurgia ampla com laminectomia e artrodese de T6-T8. As amostras de sítios profundos foram positivas em BAAR, TRM-TB e as culturas identificaram Mycobacterium tuberculosis. O IGRA foi repetido e manteve resultado negativo.
ConclusãoAs manifestações clínicas da espondilodiscite tuberculosa são tardias e estão associadas a pior prognóstico. O diagnóstico precoce com terapêutica adequada reduz as chances de complicações como cifose, estenose de canal vertebral e déficits neurológicos permanentes. O caso em questão ressalta como o IGRA não deve excluir o diagnóstico de tuberculose principalmente em pacientes de alto risco para doença grave, como a população que vive com HIV.