14° Congresso Paulista de Infectologia
More info: A leptospirose é uma zoonose de grande relevância clínica, mas ainda subnotificada e sem dados confiáveis de incidência global, relacionada a condições sanitárias precárias e vulnerabilidade sócio-econômica. A suspeita clínica leva ao tratamento precoce, um importante fator de modificação no prognóstico das formas graves, como a síndrome íctero-hemorrágica.
ObjetivoRelatar caso de leptospirose evoluindo com anemia hemolítica, um achado infrequente no curso da doença.
MétodoRelato de caso e revisão de literatura.
ResultadosPaciente masculino, 40 anos, negro, residente em Ribeirão Preto, encanador. Referiu início de mialgia generalizada em 20/02/24, associada a artralgia, cefaléia, e febre diária. No 3° dia de doença, evoluiu com dor abdominal epigástrica irradiando para hipocôndrio direito, associada a vômitos, diarréia, icterícia, e redução de débito urinário. Procurou UPA em 28/02, onde foi evidenciada hiperbilirrubinemia direta e lesão renal aguda normocalêmica, sendo por este motivo encaminhado à Unidade de Emergência do HCFMRP. Ao exame físico, apresentava-se ictérico 4+/4+, afebril, estável hemodinamicamente, confortável em ar ambiente, com hepatomegalia e abdome difusamente doloroso, sem sinais de peritonite, sem outros achados. Foi internado e iniciou hemodiálise, foram solicitadas sorologias, incluindo leptospirose, e iniciada ceftriaxona. Desde a admissão evoluiu com queda progressiva de hemoglobina, sem sangramentos, até hb de 5 no dia 08/03, quando foi transfundido. Apesar da anemia, referia melhora completa dos sintomas da admissão, queixando-se apenas de astenia. Na investigação, foram solicitados marcadores de anemia hemolítica, com resultado confirmatório, e pelo uso recente de ceftriaxona (totalizou sete dias em 06/03) e infecção ativa, levantou-se hipótese de deficiência de G6PD, cujo teste qualitativo resultou positivo. O paciente evoluiu com recuperação progressiva dos níveis de hemoglobina após transfusão única, sem outras intervenções, e recebeu alta em 15/03, em completa recuperação renal, hepática e da hemólise, com IgM reagente para leptospirose.
ConclusãoA anemia hemolítica é um achado atípico no curso natural da Síndrome de Weil, podendo ocorrer na fase imune das formas anictéricas, mas geralmente acompanhada de outros sintomas. Nesse caso, pela melhora clínica e epidemiologia suspeita (brasileiro negro), aventou-se hipótese de deficiência de G6PD, doença que pode cursar com surtos de hemólise (autolimitada ou grave) após uso de medicamentos ou durante infecções.