XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA infecção pelo vírus HIV não é um fator de risco particular para endocardites infecciosas e, da mesma forma que a população não infectada pelo HIV, é mais frequente em usuários de drogas injetáveis. O caso a seguir é uma descrição incomum de manifestação inicial de infecção pelo vírus HIV com Endocardite e pneumocistose. Paciente, DFS, masculino, 33 anos, previamente hígido deu entrada no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) em 05/03/2021, com sintomas respiratórios sugestivos de infecção por Covid-19 (febre, dispnéia, fadiga, astenia e dessaturação) iniciados 2 semanas antes da internação. Realizada tomografia de tórax que evidenciou infiltrado em vidro fosco difuso e bilateral com predomínio central, reticulações e pequenos nódulos de permeio comprometendo 50% do parênquima pulmonar. Realizou 2 exames de RT-PCR para Sars-Cov2, ambos negativos. Recebeu corticoterapia porém ainda assim evoluiu com piora do quadro respiratório, taquicardia importante (até 140bpm), persistência da febre, além de monilíase oral. Em angiotomografia de tórax realizada em 18/03/21 evidenciou aumento das opacidades para 70%. Solicitada sorologia para HIV que foi reagente, o que motivou início de bactrim terapêutico para pneumocistose (CD4+ 107 células/mm3, carga viral 146.014 cópias). Devido à persistência de febre, taquicardia e sopro panfocal, solicitado Ecocardiograma transesofágico 20/04/21 que evidenciou imagem filamentar em valvas mitral e tricúspide. Paciente negou uso de drogas injetáveis ou outros fatores de risco para endocardite. Várias amostras de hemoculturas coletadas negativas. Fez uso empírico de Meropenem e Vancomicina por 6 semanas. Permaneceu afebril, em bom estado geral e recebeu alta em 14/05/2023 em uso de antirretrovirais e profilaxia secundária para pneumocistose. No auge da pandemia de covid-19 muitas infecções respiratórias foram negligenciadas devido a similaridade das alterações clínicas e tomográficas deste vírus com outras patologias, como a pneumocistose, a exemplo do caso descrito. Além disso, enfatizamos a importância da observação minuciosa do paciente; o mesmo ainda apresentava taquicardia e febre persistente, sintomas que poderiam ser facilmente atribuídos à doença oportunista e à infecção pelo HIV, porém ao prosseguir com a investigação foi possível diagnosticar e tratar uma endocardite infecciosa, o que certamente contribuiu para a sobrevivência do paciente, apesar de todas as possibilidades de desfechos negativos relacionados a este caso.