Uma pessoa tem autoconhecimento quando é capaz de reconhecer e relatar sobre situações que ocorrem consigo mesma (sejam dentro de si ou em relação ao ambiente externo). Entretanto, ter autoconhecimento não implica necessariamente na capacidade de controlar o próprio comportamento. Essa distinção pode explicar o uso inconsistente do preservativo entre homens que fazem sexo com homens (HSH). Mundialmente essa população se apresenta como uma das mais afetadas pela epidemia de infecção pelo HIV. Segundo dados do Boletim Epidemiológico HIV/aids 2020, do Brasil, foram notificados, entre 2007 e junho de 2020, 237.551 (69,4%) casos de infecção pelo HIV em homens.
ObjetivosIdentificar, a partir de relatos verbais, fatores que podem interferir no uso do preservativo entre HSH. Método: foram entrevistados 120 HSH, usuários do Serviço de Ambulatórios Especializados de Infectologia Domingos Alves Meira, que integra o complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu e a partir de convites efetuados em redes sociais e pela técnica de “bola de neve”. Realizou-se análise descritiva das respostas, calculando-se frequências e percentagens.
ResultadosDo total de 120 HSH participantes, 79% referiu não ter dificuldade para solicitar o uso do preservativo a seus parceiros e 75% relatou não ter usado preservativo em todas as relações sexuais (sexo anal) nos últimos seis meses. Quanto a diminuir a frequência ou interromper o uso, 81% relataram ter essas práticas em relacionamentos fixos. Quando questionados sobre os motivos para o não uso do preservativo destacaram-se: confiança no parceiro (61%), prazer momentâneo (35%), fazer apenas sexo oral (25%). Vale também ressaltar que 64% dos participantes acertaram entre 81% e 92% das questões de conhecimentos acerca da infecção pelo HIV/aids.
ConclusãoApesar dos participantes demonstrarem autoconhecimento ao relatarem não ter dificuldade em pedir para o parceiro usar o preservativo e grande parte ter informações corretas sobre o tema HIV/aids, há alta frequência de participantes que não tem práticas seguras em relações sexuais anais, bem como em relacionamentos estáveis. Logo o autoconhecimento e a compreensão sobre a infecção e suas consequências parecem não ser suficientes para garantir a mudança de comportamentos dessa população. É necessário a criação de políticas que visem novas práticas culturais e não apenas ações individuais.