XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA América Latina tem observado um aumento alarmante nas novas infecções pelo HIV entre jovens gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH). No Brasil, houve um aumento expressivo no número de casos de HIV entre pessoas do sexo masculino até 30 anos, mas dados específicos sobre jovens HSH ainda são escassos. Neste trabalho, objetivamos estimar a prevalência de infecções por HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) em jovens HSH do Rio de Janeiro.
MétodosConectad@s é um estudo com amostragem por respondent-driven sampling (RDS), que recrutou jovens HSH de 18-24 anos entre novembro/2021 e outubro/2022. Os participantes realizaram testagem para HIV, sífilis, clamídia e gonorreia (urina, retal e orofaringe), e responderam questionários estruturados sobre aspectos comportamentais e de saúde. Foram avaliados os fatores associados a novas infecções pelo HIV utilizando teste qui-quadrado e de Fisher.
ResultadosForam recrutados 409 jovens HSH, dos quais 370 (90,5%) eram homens cis, 9 (2,2%) homens trans e 30 (7,3%) pessoas não-binárias/queer, com idade média de 21 anos (intervalo interquartil: 20-23). Ao todo, 70,3% (n = 291) se autodeclararam Pretos, Pardos ou Indígenas, e 60,4% (n = 247) tinham ensino médio completo. A prevalência de HIV foi 9,8% (n = 40/409). Dentre os indivíduos vivendo com HIV, 50,0% (n = 20) eram novos diagnósticos. No geral, 54 (13,2%) e 47 (11,5%) indivíduos, respectivamente, testaram positivo para clamídia e gonorreia em pelo menos um dos três locais de coleta. Comparados aos participantes HIV-negativos, os recém-diagnosticados com HIV mais frequentemente reportaram raça/cor Preta/Parda/Indígena (90,0% vs. 69,6%), ter estudado até o ensino médio (80,0% vs. 59,3%), maior número de parcerias sexuais (mediana 9[IQR:5.8-20] vs. 5[IQR:3-10], p-valor < 0.01), maior risco para HIV (60,0% vs. 24,9%, p-valor < 0.001), menor conhecimento sobre o HIV (escala 0-12 pontos; mediana 9,5[IQR:8-11] vs. 11[IQR:9-11], p-valor < 0.05), e maior prevalência de sífilis ativa (50,0% vs. 10,8%, p-valor < 0.001), clamídia (25,0% vs. 14,6%), e gonorreia (45,0% vs. 13,6%), esses últimos em pelo menos um dos locais de coleta.
ConclusãoJovens HSH apresentaram alta vulnerabilidade e taxas desproporcionais de novos diagnósticos de HIV e outras ISTs, apontando para oportunidades de prevenção perdidas. Há uma necessidade urgente de adaptar intervenções específicas e eficazes para alcançar e promover a prevenção ao HIV entre jovens HSH.