Tuberculose hepática é uma forma rara de apresentação desta micobacteriose que pode se manifestar com diferentes padrões, desde a forma miliar até formas localizadas como abscessos, tuberculomas ou hepatite granulomatosa.
ObjetivoRelatar um caso de abscesso hepático por M. tuberculosis (Mtb) com extensão para subcutâneo em imunocompetente com provável embolia pulmonar concomitante.
MétodoTrata-se de paciente homem de 38 anos, natural e procedente de São José dos Campos-SP, trabalhador da construção civil, hígido, que no início de 2019 procura atendimento por dor abdominal, constipação intestinal e disúria por três meses, associados a perda de 13kg e febre verspetina auto-limitada por duas semanas. Tomografia (TC) de abdome e torax revela imagens sugestivas de implantes peritoneais, líquido livre em cavidade abdominal e pequeno derrame pleural à direita. Rastreamento oncológico resultou negativo, PPD 13 mm, anti HIV não reagente. Houve melhora clínica espontânea e o paciente permaneceu assintomático por 4 meses. Por recidiva da dor abdominal foi submetido a nova TC, que não mostrava os nódulos peritoneais, porém duas lesões hipodensas com aspecto abscedado em parenquima hepático, uma delas bocelando contorno hepático, foram observadas, além de lesões pulmonares sugestivas de embolos sépticos. Em duas semanas surgiram massas em topografia de arcos costais à direita. Novas imagens revelaram massa contígua ao fígado, e a secreção coletada em abordagem cirúrgica resultou em baciloscopia positiva, teste rápido molecular e cultura positivas para Mtb. Iniciado tratamento com esquema básico para tuberculose com ótima resposta clínica.
ConclusãoO envolvimento hepático na tuberculose frequentemente ocorre concomitante a outras localizações. Pode ser originário de disseminação hematogênica através da artéria hepática proveniente de um foco pulmonar, mas também de focos gastrointestinais pela veia porta. O caso relatado tem início com dor abdominal e suspeita de acometimento peritoneal, este último não evidenciado posteriormente, após período de ausência de sintomas clínicos, levantando a hipótese de que o foco inicial tenha sido a reativação peritoneal, localmente controlada, porém levando a disseminação hematogênica para fígado e pulmões. Chamam atenção a evolução insidiosa e ausência de sintomas sistêmicos no curso da infecção. A extensão do abscesso hepático e concomitância de lesões pulmonares com aspecto de embolia pulmonar são dignos de nota.