A cromomicose consiste em infecção causada por fungos demáceos pigmentados: Fonsecaea spp, Cladophialophora, Phialophora e Rhinocladiella. A inoculação de esporos por via transcutânea resulta em infecções cutânea ou subcutânea, sendo raro o envolvimento do sistema nervoso central. Em revisão da literatura observou-se que apenas 4,3% dos casos de cromomicose ocorrem na região cervical ou cefálica (Santos et al., 2021).
ObjetivoEm vista da rara ocorrência e manejo terapêutico incerto este estudo visa relatar caso abscesso cerebral por Fonsecaea spp em um paciente transplantado cardíaco com boa evolução após abordagem terapêutica e cirúrgica.
ResultadosCaso: Homem, 43 anos, natural de Porteirinha/MG, residente em Campinas desde 1995. Paciente transplantado cardíaco por doença de Chagas em 2017, com inúmeros episódios de rejeição (último em março de 2021), com infecção por CMV de difícil controle tratada por 9 meses, de 2017-2018. Em uso de azatioprina, tacrolimus e prednisona. Em março de 2021 apresentou lesão vegetante em região temporal direita e em membro superior direito. Realizou exérese da lesão cutânea temporal direita que evidenciou processo inflamatório crônico inespecífico com granulomas do tipo corpo estranho envolvendo estruturas arredondadas, compatível com cromomicose. Foi iniciado tratamento com itraconazol. Em 08/10/22 apresentou confusão mental e desorientação no tempo e espaço, sem demais alterações descritas ao exame neurológico. Foi internado e na investigação a tomografia computadorizada de crânio evidenciou processo inflamatório e edema em córtex fronto-parietal; lesão circular medindo 3 × 2 × 2,5cm em seus maiores eixos na substância branca em hemisfério esquerdo, causando desvio de aproximadamente 2cm da linha média. Foi realizada punção diagnóstica com saída de líquido róseo com grumos. Em vista dos resultados inconclusivos, foi realizada nova abordagem neurocirúrgica com biópsia do tecido cerebral que evidenciou hifas demáceas e crescimento em cultura de Fonsecaea sp, sensível a anfotericina B, voriconazol e itraconazol. O paciente iniciou o tratamento com anfotericina B complexo lipídico, posteriormente trocado para vorizonazol, endovenoso e, dois meses após, quando estabilização clínica, via oral. Paciente manteve o tratamento até abril de 2022. TC de controle não demonstrava atividade de doença. Continua em seguimento ambulatorial com terapia imunossupressora com tacrolimus e prednisona.