A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa de grande impacto no Brasil e no mundo. A População Privada de Liberdade (PPL) compõe uma das subpopulações de alto risco para a infecção, cuja incidência, no Brasil, chega a ser 100 vezes maior que na população em geral. O presente estudo tem por objetivo analisar o impacto das movimentações da PPL na ocorrência da tuberculose em Mato Grosso do Sul.

Trata-se de um estudo observacional, do tipo ecológico. Foram analisados três bases de dados, a saber: 1) Relação de pacientes com TB ativa dentro do sistema prisional de Mato Grosso do Sul, de janeiro de 2014 a maio de 2019 (N = 411), dados obtidos de um amplo projeto “The spatial scale of M. tuberculosis transmission in high-incidence environments”. 2) Consulta manual de movimentações de encarceramento em registros individuais no Sistema Integrado (SIAPEN), sendo localizados as movimentações dos pacientes dentro da prisão de 334/411(81,26%). As informações foram registradas no RedCap®. 3) Levantamento da proporção de novos casos por ano, na plataforma Integrada de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

Foi obtido um total de 7291 movimentos de 2014 a dezembro de 2018. O maior pico de movimentações foi registrado no ano de 2015 (1560), que coincide com o aumento significativo da proporção de novos casos de TB, no mesmo ano (19,07%), comparado a 2014 (7,23%). Observou-se uma queda no número analisado, durante anos subsequentes, seguido de novo aumento do número de movimentos, no ano de 2018 (1511). Quanto à proporção de novos casos de TB entre a PPL, observou-se uma relativa estabilidade entre 2015 e 2017, seguido de um aumento expressivo em 2018 (30,17%). Diante disso, é possível que haja uma relação entre o aumento de novos casos de TB entre PPL, nos anos de 2015 e 2018, comparado ao aumento do número de movimentos dos indivíduos no sistema prisional nesse mesmo período.

São necessários novos estudos sobre a capacidade de disseminação espacial do M. tuberculosis no sistema prisional para se estabelecer o real impacto da movimentação do preso na transmissão da doença. Entretanto, as informações obtidas pelo presente estudo, evidenciam a relação entre as expressivas movimentações dos PPL no sistema prisional e o aumento de casos novos de TB entre essa mesma população. Esses achados, podem contribuir para um levantamento de hipóteses sobre o extravasamento da tuberculose devido à ampla rede de contatos.