A pandemia da COVID-19 trouxe diversos impactos negativos para a saúde no mundo e um dos pontos recentemente destacados é o seu papel no aumento do consumo de antimicrobianos e nas infecções por micro-organismos multirresistentes.

Descrever o impacto de um Programa de Stewardship de Antimicrobianos (ASP) nas Unidades de Terapia Intensiva de um hospital privado comparando os dados de consumo de antimicrobianos (ATM), a taxa de infecção relacionada a dispositivos invasivos e a bacteremia por bacilos gram-negativos resistentes a carbapenêmicos (BGN Carba-R) no período pré-implantação (antes da pandemia da COVID 19) com o pós-implantação (durante a pandemia da COVID-19).

O ASP foi estruturado e teve sua atuação plena a partir de 2020 com avaliação diária de todos os antimicrobianos por infectologistas e farmacêuticos clínicos com registro em prontuário eletrônico. O consumo de ATM foi mensurado em dias de terapia (DOT) e por dose diária definida (DDD) por 1000 pacientes-dia. Foram consideradas as IRAS relacionadas a dispositivos invasivos (pneumonia, infecção urinária e infecção da corrente sanguínea), com cálculo da densidade de incidência (DI) por 1000 dispositivos-dia. Os pacientes foram estratificados em pacientes COVID-19 e não-COVID-19.

Após a implantação do programa de Sterwardship houve queda do consumo de ATM em nosso serviço: comparando-se o consumo em todas as áreas de 2020 e 2021 versus 2019 houve redução de 12,72% do DOT Geral e 12,19% do DDD Geral; 49,33% do DOT de Meropenem e 50% do DDD de Meropenem. Quando se analisam apenas as áreas não-COVID essa redução é de 21,23% no DOT Geral; 26,16% no DDD Geral; 49,33% No DOT de Meropenem e 62,48%no DDD de Meropenem. Dos 18 ATM avaliados, 14 apresentaram redução em consumo nesse período. A economia mensurada em custo de medicação foi de R$460490,90 em 2020 e R$ 782693,35 em 2021. Acompanhando a redução de consumo de ATM houve redução no número de bacteremias por BGN CarbaR de 21 para 2 em 2020 e 7 em 2021, com DI de 1,53/ 1000 paciente.dia para 0,33 em 2020 e 0,47 em 2021. A mortalidade geral do serviço foi de 5,5 % em 2019, 5% em 2020 e 3,7% em 2021.

Apesar dos relatos do aumento do consumo de antimicrobianos e consequentemente da multirresistência ao redor do mundo durante a pandemia da COVID-19, a atuação ativa dos profissionais do ASP em concordância com a equipe médica nas UTI, resultou em um uso sustentável dos antimicrobianos e consequente associação na redução das bacteremias por BGN Carba-R.