XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoO aumento de internações durante o período da pandemia foi responsável por acarretar mudanças no padrão das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) devido ao perfil do paciente internado (tempo de internação prolongado, uso de dispositivos invasivos, tratamentos utilizados) e às mudanças nas práticas hospitalares que se seguiram. O objetivo deste estudo foi identificar o impacto da pandemia de COVID-19 nas Infecções de Corrente Sanguínea (ICS) causadas por microrganismos multidroga resistentes em enfermarias (clínicas e cirúrgicas) e nas unidades de terapia intensiva de pacientes adultos, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB).
MétodoTrata-se de um estudo coorte retrospectivo de pacientes com diagnóstico laboratorial de ICS no período 01/01/2018 a 31/08/2021. Foram incluídos pacientes com uma hemocultura positiva para qualquer uma das seguintes bactérias: S. aureus resistente à oxacilina, E. faecium resistente a vancomicina, K. pneumoniae, A. baumannii e P. aeruginosa resistentes a carbapenêmicos, com coleta realizada após 48 horas de internação hospitalar ou com menos de 48 horas de internação com internação prévia e retorno hospitalar em até 30 dias. Dois grupos foram definidos para comparação: período pré-pandêmico (01/01/2018 a 29/02/2020) e período pandêmico (01/03/2020 a 31/08/2021). Os cálculos estatísticos foram realizados nos programas OpenEpi (versão 3.01), EpiInfo (versão 7.2.5.0) e JoinPoint (versão 5.0.1).
ResultadosA partir dos dados obtidos, observou-se aumento brusco das taxas de ICS e da taxa de óbitos durante o período pandêmico. Em relação aos agentes etiológicos, a ICS por K. pneumoniae resistentes a carbapenêmicos apresentou a maior densidade de incidência quando comparados os dois períodos (OR=2.241 [1.459‒3.461] p<0,001). Quanto a taxa de óbitos, essa também foi maior no período pandêmico (OR=1.832 [1.307‒2.569] p<0,001). Os fatores de risco que apresentaram associação com óbito, observados por meio da análise multivariada de Cox, foram Escore de Charlson (HR=1.19 [1.07‒1.33], p=0,002) e choque hemodinâmico (HR=1.84 [1.28‒2.65], p=0,001). Receber o antibiótico adequado mostrou-se fator protetor (HR=0.24 [0.16-0.36], p<0,001), como observado na análise multivariada de Cox.
ConclusãoA partir da avaliação das ICS e dos óbitos, notamos que a pandemia de COVID-19 afetou também os pacientes internados por outras doenças.