Descrevemos um raro relato de caso de Leucemia Mieloide Aguda (LMA) e Hanseníase Virchowiana com diagnóstico concomitante. Após pesquisa utilizando esses termos em base de dados como PubMed, não encontramos nenhuma publicação semelhante. Este é, portanto, o primeiro relato de ambas condições, descrito na literatura. Paciente do sexo masculino, 78 anos, natural do Maranhão e residente de São Paulo, com antecedentes de hipertensão e diabetes, foi internado em Hospital Oncológico em São Paulo, em Fevereiro de 2023 para início de tratamento de LMA recém diagnosticada. Ao exame físico cutâneo da entrada apresentava placas eritematosas infiltradas de limites irregulares e mal delimitadas, distribuídas no tronco, glúteos e membros, além de lesões infiltrativas e coalescentes no nariz. Havia redução de sensibilidade em lesões de membros inferiores. O paciente referia tais lesões cutâneas há 6 anos e já havia recebido o diagnóstico de eczema cutâneo e neuropatia diabética. Naquele momento, o principal diagnóstico foi Leucemia Cutis. Biópsia de pele foi realizada, com dermatite linfohistiocitária perivascular, perineural e perianexial, com numerosos bacilos marcados pela coloração de Ziehl-Neelsen, fechando-se assim o diagnóstico de Hanseníase multibacilar. Após, foi iniciado o tratamento com poliquimioterapia única Clofazimina, Rifampicina e Dapsona em 15/03/2023. Seus contactantes foram encaminhados à unidade básica de saúde para rastreamento diagnóstico. Optado por não realizar quimioterapia convencional da leucemia, pelo alto risco de complicações, dadas comorbidades citadas, idade avançada e uma performance score desfavorável - ECOG 3 na entrada. Paciente evoluiu a óbito em após 45 dias de internação, por neutropenia febril, mesmo com antibioticoterapia adequada. O diagnóstico concomitante das duas condições provavelmente foi incidental. A hanseníase é uma doença tropical negligenciada e o Brasil concentra 90% dos casos das Américas, com cerca de 25 mil novos casos ao ano. Associado a isso, a população do País está em crescente envelhecimento, tornando mais frequentes neoplasias como a LMA. Dessa forma, espera-se que a associação entre as duas condições seja cada vez mais frequente no nosso país. Por não haver relatos na literatura, desconhecemos a evolução da hanseníase no contexto do tratamento da LMA, assim como a interação das drogas com os principais quimioterápicos indicados.