Infecções de Corrente Sanguínea (ICS) por Candida spp. apresentam alta letalidade em pessoas que vivem com HIV (PVHIV), chegando a 75% em alguns estudos. Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER), a taxa de candidemia correspondeu a aproximadamente 20% das ICS em 2016, sendo o segundo agente mais frequente de ICS desde 2011. Desta forma, este estudo visa levantar dados epidemiológicos e fatores de risco para tal desfecho em tal população

Coorte retrospectiva comparativa entre ICS bacteriana ou por Candida spp. em população admitida em UTI, incluindo PVHIV, de novembro de 2015 a setembro de 2019 com revisão de prontuário e de banco de dados do Serviço de Controle de Infecções Hospitalares do IIER. CEP-PB: 2775110. Foram incluídos todas as ICS de pacientes admitidos na UTI acima de 18 anos reportadas conforme critérios ANVISA no período. Análise estatística relacionada a candidemia e óbito foi realizada com testes paramétricos e não paramétricos por SPSS-IBM.

Houve 590 admissões de PVHA em UTI no período e 132 ICS foram incluídas após triagem. Destas, 99 eram ICS bacterianas (73 em PVHIV) e 33 eram por Candida spp., com 14 Candida albicans e 9 por Candida tropicalis. O status sorológico para HIV não foi significativo para manifestação de candidemia (p=0,639). Não obstante, em PVHIV, a incidência de candidemia foi de 7,97/1000 admissões UTI-ano contra 5/1000 adm-UTI-ano em pessoas não PVHIV (n=26 em PVHIV). Em PVHA com candidemia, o CD4 médio era 88 (mediana [med] 42, IQR 136) e seis (23%) apresentavam candidíase oroesofágica, com SAPS3 médio de 36 (med 50, IQR 63). Pancreatite estava presente em seis (23%) e NPT em 11 (42%) dos casos. O candida escore de Leon médio foi de 1,92 (med 2, IQR 2, p=0,662). A mortalidade em PVHA com candidemia foi de 69% e 57% em pessoas não PVHA (p=0,180).

Candidemia em PVHA possui elevada incidência e morbimortalidade quando tal população se encontra crítica, mesmo num centro altamente especializado em terapia intensiva para tal população, apesar deste estudo não ter encontrado significância estatística numa análise restrita. Novos ensaios com amostras maiores e melhores desenhos podem contribuir para uma melhor a compreensão, diagnóstico precoce e tratamento adequado dessa complicação nesta população-chave.