A leishmaniose cutânea difusa (LCD) é uma das formas de apresentação da leishmaniose tegumentar e um dos principais diagnósticos diferenciais a ser considerado é a hanseníase virchowiana (BRASIL, 2006). A resposta ao tratamento da LCD pode ser baixa e as recidivas são recorrentes (BRASIL, 2017).

O trabalho visa ressaltar a possibilidade da afecção simultânea de LCD e hanseníase.

A metodologia consiste na descrição de um caso de LCD concomitante ao Eritema Nodoso Hansênico (ENH).

Homem, 37 anos, procedente do município de Bela Vista, Mato Grosso do Sul (MS), procurou o serviço de saúde no município de Campo Grande/MS em março de 2023 com queixas de lesões cutâneas em membros superiores, inferiores, icterícia, febre, diarreia e prostração há 01 mês. Contemplava em seu histórico o tratamento para hanseníase dimorfa com poliquimioterapia finalizado em 2019 e ENH em uso de talidomida com uso prévio recorrente de corticoides. Ao exame físico apresentava lesões crostosas ulceradas com base eritematosa de distribuição randômica, hepatoesplenomegalia sem alterações ao exame pulmonar e cardíaco. Os exames laboratoriais iniciais evidenciavam pancitopenia, disfunção hepática, renal e sorologias negativas para sífilis, hepatites B e C, HIV e dengue, zika e chigungunya. Considerando o quadro clínico, foi solicitado exame sorológico para leishmaniose visceral com resultado reagente de imunofluorescência direta com título 1:80 e pesquisa de amastigotas em aspirado medula óssea negativo. Realizado biópsia excisional de lesões de membros superior e inferior esquerdo com pesquisa de amastigotas positiva. Foi tratado com anfotericina B Lipossomal na dose cumulativa total de 30 mg/kg. Após o tratamento evoluiu com melhora clínica e laboratorial com regressão e reepitelização das lesões, não havendo, até o momento, recidiva.

A LCD pode se manifestar em indivíduos que apresentem anergia e deficiência específica na resposta imune celular a antígenos de Leishmania sp. O quadro clínico caracteriza-se por lesões de evolução insidiosa até o desenvolvimento de placas e nodulações não ulceradas em grandes extensões cutâneas (BRASIL, 2017). Torrealba (1994) descreve um caso de coinfecção na Venezuela com as formas hanseníase virchowiana e leishmaniose cutânea localizada com boa evolução após o tratamento com meglumina. Deste modo, além da análise de diagnósticos diferenciais, é de suma importância considerar a possibilidade da afecção em concomitância das patologias.