A infecção por SARS-CoV-2 que causa a COVID-19 tem uma gama de apresentações clínicas, com a maioria de casos graves e mortes sendo de pessoas idosas e consideradas de risco. Esta infecção pode ter sua trajetória comparada com a do SARS-CoV-1, que em 12 anos de acompanhamento demonstrou adoecimento cardíaco em 40% dos pacientes. A síndrome pós-COVID-19 envolve com maior frequência a persistência da fadiga. Há também relato de relação inversa entre retorno ao trabalho e o domínio e segurança de suas atividades laborais em profissionais de enfermagem. Desta forma, a presente pesquisa busca avaliar o processo de retorno ao trabalho de profissionais acometidos pela doença.
MétodosCoorte clínica com acompanhamento prospectivo de 210 participantes internados com síndrome gripal e exame RT-PCR positivo para COVID-19. Foram coletadas características clínicas e laboratoriais durante a internação e, após 3 meses da internação, os participantes foram contatados por telefone e submetidos ao questionário de avaliação de retorno ao trabalho. As variáveis categóricas foram submetidas ao teste Chi-quadrado. A distribuição das variáveis numéricas foi avaliada pelo teste Shapiro-Wilk.
ResultadosDos 210 participantes, 36 pacientes (17%) não retornaram ao trabalho ou retornaram de forma adaptada. As causas de não retorno ou retorno adaptado dos 36 participantes foram: demissão (35%), fadiga e fraqueza (35%), baixa capacidade funcional (12%), estresse relacionado ao trabalho (6%), aposentadoria voluntária (6%) e aposentadoria por invalidez (6%). A mediana de renda per capita entre os pacientes que retornaram a trabalhar foi de R$:1000,00 e a dos que não retornaram foi de R$: 500,00, com p = 0.0004.
ConclusãoConstatou-se que uma parte relevante (17%) dos pacientes não conseguiram retornar ao trabalho ou necessitaram retornar readaptados. O não retorno foi especialmente relevante em pacientes de menor renda, assim, pode-se afirmar que a vulnerabilidade econômica deve ser tratada como objeto de intervenção para reduzir o impacto da COVID-19 em populações mais pobres. Além disso, o fato da renda prévia à internação estar ligada diretamente à capacidade de retorno ao trabalho após a alta, aponta que não há segurança de continuidade de trabalho para populações mais carentes, seja por terem apresentado persistência de quadros impedidores após a alta ou por não terem tido garantia de seus empregos durante e após a internação, visto que 35% foram demitidos.