O Líquen Simples Crônico (LSC) é uma dermatite crônica ocasionada pelo ato de coçar ou friccionar repetidamente a pele. É uma patologia de tratamento simples e sem complicações significativas. O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), por sua vez, é capaz de levar a um amplo espectro de lesões dermatológicas, seja na vigência da infecção aguda pelo HIV ou decorrente de uma infecção oportunista em sua fase de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA). No presente trabalho, é relatado o caso de uma apresentação atípica de LSC em paciente com SIDA.

Paciente de sexo masculino, 32 anos, vendedor ambulante. Na primeira consulta, em 19/02/2021, relatava que há 5 meses havia iniciado quadro de perda ponderal de peso (totalizando 11kgs), anorexia, inapetência, diarreia, febre (38 a 39°C) e lesão escavada, dolorosa e com secreção amarelada em membro inferior direito (MID). Durante esses meses, buscou ajuda médica e iniciou diversos esquemas de antibioticoterapia sem melhora clínica. Ainda nessa consulta, foi realizado anti-HIV 1 e 2, ambos reagentes. Iniciou-se, assim, o tratamento com Tenofovir + Lamivudina + Dolutegravir e foram solicitados demais exames complementares. Em 26/02/2021, os resultados demonstravam ecodoppler e radiografia de MID normais e carga viral de 255.336 cópias. Nessa segunda consulta, o paciente apresentava melhora clínica, no entanto, permanecia com a febre e a lesão exsudativa em MID, sendo solicitado a biópsia da lesão. Em 03/2021, o resultado da biópsia demonstrava LSC. O paciente deu continuidade ao acompanhamento clínico e laboratorial da infecção pelo HIV, sem demais intervenções para a lesão dermatológica, apresentando melhora progressiva do quadro globalmente. Em 05/2021 apresentou carga viral indetectável. Em 08/2022 o encontrava-se assintomático e com a lesão dermatológica curada.

diante de um paciente com SIDA apresentando lesão dermatológica, patologias como Leishmaniose Tegumentar, Tuberculose cutânea, Osteomielite, Sífilis e Herpes são possíveis diagnósticos diferenciais. No entanto, diante do caso descrito, fica evidente que até lesões simples como o LSC podem apresentar modificações em sua apresentação e resolução diante de um paciente imunodeprimido. A literatura médica é escassa de estudos que avaliem a presença de LSC em pacientes com HIV e a melhora clínica da lesão dermatológica após a instituição da terapia antirretroviral, evidenciando-se, assim, a importância deste trabalho.