Surtos por Legionella spp são comumente associados a edifícios ou estruturas que possuem sistemas de água com torres de resfriamento e aquecimento central, como hospitais. As fontes mais comuns incluem água usada para banho, fontes decorativas e torres de resfriamento. Surtos por esse agente podem ser de difícil identificação. Este estudo objetiva descrever a investigação de um surto de legionelose em uma unidade de Transplante de Medula Óssea (TMO).

Estudo realizado na unidade de TMO de um hospital de ensino terciário, na cidade de São Paulo. Foram incluídos todos os pacientes com diagnóstico laboratorial confirmado para legionelose de aquisição hospitalar (critérios do CDC/NHSN). A investigação inicial do ambiente foi realizada através de cultura de água e semeada em meio específico. Na impossibilidade de identificação do patógeno e persistência do surto, nova coleta de água e swabs dos metais sanitários foi realizada utilizando pesquisa molecular com metagenômica, pela técnica de detecção de amplicon.

O primeiro caso de Legionella spp. foi detectado em agosto/2020, totalizando 8 casos até abril/2023. Todos os diagnósticos foram realizados por teste de antígeno urinário. Seis eram do sexo feminino e a média de idade 51,3 (26-65) anos. A principal doença de base era LMA (62,5%) e 75% eram receptores de TCTH alogênico. Após o primeiro caso, foi coletada água dos chuveiros e torneiras dos banheiros da unidade e caixa d’água e realizada cultura, porém sem identificação do agente. Em 2022, após novos casos, foi identificado vínculo epidemiológico com dois quartos específicos, sendo realizadas novas culturas de água de todos os pontos de água dos banheiros, sem isolamento do patógeno. Em 2023, novas coletas de água e swabs de superfície foram realizadas nos dois quartos (53 amostras) e realizado sequenciamento de amplicon. Foi identificada Legionella pneumophila em swab de superfície interna de chuveiro/chuveirinho do quarto com maior número de casos (n = 7). Amostra clínica respiratória obtida de um dos pacientes com diagnóstico, foi submetida ao sequenciamento com identificação do agente, 100% compatível com isolado ambiental. Após bloqueio do quarto, não observamos novos casos na unidade.

A metagenômica possibilitou a confirmação do vínculo epidemiológico do surto de Legionella pneumophila com ambiente, sendo possivelmente superior aos métodos tradicionais para identificação do patógeno de amostras ambientais.